terça-feira, 11 de novembro de 2008

18. Ser um país jovem – positivo ou negativo?



O fato de ter sido até os anos de 1980 um “país jovem” deve ser considerado positivo ou negativo para o Brasil? Deve ser considerado negativo, se pensarmos que a grande porcentagem de crianças e adolescentes no total da população exerce um peso econômico muito maior sobre os adultos – teoricamente, a faixa etária que trabalha e sustenta as demais. Além disso, na medida em que não houve grandes investimentos em educação e saúde, a maioria desses jovens não recebeu formação adequada para exercer atividades qualificadas. De 1980 a 2000, em média, a verba destinada anualmente à educação no orçamento do Tesouro Nacional foi de apenas 6,5% do total, enquanto nos Estados Unidos, cujo orçamento é bem maior, foi de 17% e no Japão de 20%. No Brasil, apenas uma em quatrocentas pessoas inicia e conclui o ensino superior, ao passo que na França a proporção é de uma em 25 e nos Estados Unidos de uma em dez.
E os gastos anuais com a saúde no Brasil situaram-se, nesse mesmo período, em torno de 2,5% do orçamento federal, enquanto na França é de 8,5% e nos Estados Unidos de 9%.
As despesas com educação e a saúde dos jovens, no Brasil, recaem de fato sobre as famílias e não sobre o Estado, como ocorre nos países desenvolvidos e em muitos do Sul, como Taiwan e Coréia do Sul. Isso significa que as famílias de alta podem fornecer boa escolaridade aos seus filhos, mas as de baixa renda não; nestas os jovens normalmente têm de trabalhar para ajudar no orçamento familiar.
O número de jovens, crianças ou adolescentes, que trabalham aumentou muito nas últimas décadas. Segundo dados do IBGE, na faixa etária masculina de dez a quatorze anos, por exemplo, 21,3 % do total trabalhava em 2000, contra um porcentual bem menor em 1960. e cerca de 70% dos jovens do sexo masculino de quinze a dezessete anos trabalhavam em 2000. na faixa etária feminina de dez a quatorze anos era de 10,5% a proporção das que trabalhavam em 2000; e 27% das jovens de quinze a dezessete anos trabalhavam nesse ano.
Esse aumento do trabalho dos jovens, e também, em parte, das mulheres em geral, decorre do fato de os salários, em média, terem sofrido nas últimas décadas ajustes inferiores à inflação. Isso
tornou o salário do chefe de família insuficiente para sustenta-la, fazendo com que várias pessoas trabalhassem para aumentar o orçamento doméstico. Do ponto de vista dos jovens, isso não é positivo, pois, em geral, prejudica seus estudos e, consequentemente, seu futuro e o da economia nacional, em uma época que exige cada vez maior qualificação da força de trabalho.

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